Carta XLVIII
Do Visconde de Valmont à Presidenta de Tourvel (Carimbada de Paris)
Depois de uma noite tempestuosa, durante a qual não preguei o olho, depois de ter passado por um estado de agitação ardente e devoradora ao de completo aniquilamento de todas as faculdades da alma, é que venho procurar a vosso lado, senhora, a calma de que preciso e que, entretanto, não espero poder gozar ainda. Com efeito, a situação em que me encontro ao vos escrever faz-me entender mais do que nunca a força irresistível do amor; sinto dificuldade em conservar suficiente domínio sobre mim mesmo para pôr alguma ordem em minhas idéias; e, desde já, prevejo que não terminarei esta carta sem ser forçado a interrompê-la. E não poderei, então, esperar que compartilhareis algum dia da perturbação que sinto neste momento? Ouso crer, entretanto, que, se a conhecêsseis bem, não seríeis inteiramente insensível a ela. Acreditai-me, senhora, a fria tranqüilidade, o sono da alma, imagem da morte, não conduzem à felicidade; só as paixões ativas podem levar a ela; e, apesar dos tormentos que me fazeis experimentar, posso assegurar-vos, sem receio, que sou, neste momento, mais feliz do que vós. Em vão me acabrunhais com vossa desoladora severidade; ela não me impede de me entregar inteiramente ao amor, e de esquecer, no delírio que ele me causa, o desespero a que me condenais. Assim é que quero vingar-me do exílio a que me obrigastes. Nunca tive tanto prazer em vos escrever; nunca senti nessa ocupação emoção tão doce e, no entanto, tão viva. Tudo parece aumentar meu arrebatamento; o ar que respiro é ardente de volúpia. Aprópria mesa em que escrevo, consagrada pela primeira vez a este uso, torna-se para mim o altar sagrado do amor; como vai embelezar-se a meus olhos! Terei traçado nela o juramento de vos amar sempre! Perdoai, suplico-vos, o meu delírio. Deveria, talvez, abandonar-me menos a esses arrebatamentos que não partilhais; cumpre deixar-vos um instante para dissipar uma embriaguez que faz mais forte do que eu.
Retorno a vós, senhora, e, sem dúvida, com o mesmo entusiasmo de sempre. Entretanto, o sentimento da felicidade fugiu para longe de mim; deu lugar ao das privações cruéis. Que adianta falar-vos de meus sentimentos, se busco em vão os meios de vos convencer? Depois de tantos esforços reiterados, a confiança e a força me abandonam ao mesmo tempo. Se ainda rememoro os prazeres do amor, é para sentir mais vivamente a tristeza de me ver privado deles. Só encontro para mim em vossa indulgência, e sinto demasiado, neste momento, quanto preciso dela para esperar obtê-la. No entanto, nunca meu amor foi mais respeitoso, nunca vos deve ter ofendido menos; é de tal ordem, ouso dizê-lo, que a mais severa virtude não deveria receá-lo; mas temo, eu mesmo, entreter-vos mais tempo com a dor que experimento. Certo de que o objeto que o causa dele não compartilha, não devo, pelo menos, abusar de suas bondades; e seria fazê-lo empregar mais tempo em vos traçar essa dolorosa imagem. Tomarei tão somente o de vos suplicar que me respondais e que não duvideis da autenticidade de meus sentimentos.
Paris, neste 30 de agosto.
Fazer um exercício oral de interpretação da carta acima, trocando impressões sobre o tema central com seus colegas de sala.
Na apresentação do módulo, falamos na importância da contextualização do fato que está sendo
relatado, procurando fornecer informações pontuais e necessárias para a compreensão do que você está escrevendo, sem excesso de detalhes. Neste momento, depois de ter trabalhado com um Problema de Lógica e de ter tido acesso à obra de Choderlos de Laclos, você vai fazer um exercício em outra direção. Escreva um texto em que as informações dadas levem o leitor a entender outra coisa.
Em seguida você vai trocar os textos com seus colegas e adaptar as perguntas sugeridas na apresentação para verificar se o texto está bem escrito dentro do propósito com que está sendo produzido nesta atividade. {fazer texto dissertativo}Ou seja:
- As informações colocadas no texto foram suficientes para despistar o leitor sem comprometer a eficácia do texto?
- As informações colocadas no texto eram necessárias para despistar o leitor?
- Havia no texto elementos que permitiam ao leitor chegar na outra leitura possível, e pretendida, sem prejudicar o efeito de surpreender o leitor?
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