O que é um texto coerente?


Um texto coerente é aquele que apresenta suas ideias de forma lógica, harmoniosa e ordenada.

A caminho do trabalho ou da escola, uma pessoa encontra o seguinte anúncio:

Adquira um plano de cremação em vida e evite dúvidas sobre sua vontade. Ligue para...

Como ela entenderia esse anúncio? Usando o senso comum, podemos concluir que a intenção do anunciante é atrair pessoas que, refletindo sobre a possibilidade da morte, prefiram ser cremadas em vez de enterradas. No entanto, um desavisado poderia se perguntar, ao ler o anúncio, por que alguém iria querer uma "cremação em vida"e ainda por cima pagar por isso... É aí que entra a questão da coerência: as duas possibilidades de interpretação foram causadas por um mau ordenamento das palavras no anúncio. Para evitar ambiguidade ou piadas de engraçadinhos, convém ordenar as palavras de uma maneira mais clara. Uma opção:

Adquira em vida um plano de cremação e evite dúvidas sobre sua vontade.

Há casos em que a falta de coerência pode ir além de várias possibilidades de interpretação e resultar numa total falta de sentido. Veja:

As explicações não eram convincentes, mas eles as apresentaram, contudo estavam preocupados com o problema que haviam causado.

No caso acima, a coerência é prejudicada pelo uso inadequado dos elementos coesivos (mas, contudo) e pelas "peças" (as palavras) mal encaixadas. O período pode ser reescrito da seguinte maneira, selecionando elementos coesivos adequados e recorrendo aos recursos linguísticos, como a vírgula:

Preocupados com o problema que causaram, apresentaram suas explicações, mas elas não eram convincentes.

Por vezes, o período pode estar bem estruturado do ponto de vista sequencial, mas trazer informações contraditórias e pouco claras. Nesse caso, é preciso ter certo conhecimento do assunto abordado para captar a falta de lógica entre as proposições:

Os índices de desemprego estão altos porque o país não foi abatido pela crise e nossa produção industrial e situação económica nunca estiveram tão prósperas.

Outro exemplo:

Adoro comer batata frita porque engorda e aumenta os níveis de colesterol.

A coerência, portanto, relaciona-se diretamente ao sucesso na interpretação da mensagem, segundo a intenção do interlocutor. Nas páginas a seguir serão apresentados os critérios de textualidade e os fatores relativos à coerência.


Via de mão dupla

Para a comunicação ser eficiente, o receptor precisa fazer um esforço.

Há textos que estão bem ou razoavelmente organizados do ponto de vista dos critérios de textualidade. Além disso, o sucesso da comunicação depende da cumplicidade entre o produtor e o receptor- este sempre procura fazer as proposições e inferências necessárias para compreender aquele. Quando a compreensão não ocorre, minimamente, mesmo com o esforço do leitor/ouvinte, é provável que os critérios de textualidade estejam mal desenvolvidos.


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Na situação comunicativa a seguir, vamos entrar em contato com um texto literário, retirado do livro Quincas Borba. É preciso que o leitor faça inferências e perceba que o autor usa a ironia para revelar o caráter adulador de um personagem ou a credulidade cheia de preconceitos de outro. O leitor deve compreender a intencionalidade do texto e aceitá-la:

"Carlos Maria chamava-se o primeiro, Freitas o segundo. Rubião gostava de ambos, mas diferentemente; não era só a idade que o ligava mais ao Freitas, era também a índole deste homem. Freitas elogiava tudo, saudava cada prato e cada vinho com uma frase particular, delicada, e saía de lá com as algibeiras cheias de charutos, provando assim que os preferia a quaisquer outros. Tinha-lhe sido apresentado em certo armazém da Rua Municipal, onde jantaram uma vez juntos. Contaram-lhe ali a história do homem, a sua boa e má fortuna, mas não entraram em particularidades. Rubião torceu o nariz; era naturalmente algum náufrago, cuja convivência não lhe traria nenhum prazer pessoal nem consideração pública. Mas o Freitas atenuou logo essa primeira impressão; era vivo, interessante, anedótico, alegre como um homem que tivesse cinquenta contos de renda (...)"

Machado de Assis, Quincas Borba.


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